Ainda que eu adore o conceito de antibiblioteca, que atribui valor aos livros não lidos e às possibilidades contidas neles, dou mais peso às experiências concretas, afinal, nada se tira de uma leitura em potencial. Ao mesmo tempo, admito acumular livros intocados e os que mais juntam pó são os calhamaços — como chamam desde os livros com mais de 500 páginas aos que superam as milhares e viram colossos bem difíceis de serem carregados por aí. Coloco a culpa pelo abandono na ânsia de ler todos os livros desejados e a impossibilidade de fazer isso. Lendo como em uma corrida, pouco tirei de leituras apressadas antes de entender que, em vez da pressa, selecionar bem o que ler já serviria como acalento. Entre essas leituras fundamentais estão alguns livros gigantescos.
Minhas experiências mais duradouras foram com livros considerados grandes. Não só pela óbvia extensão da leitura, mas sobretudo pelo período que permaneceram comigo depois e pelo carinho que ainda guardo por eles. Eu poderia ter alongado em meses o meu tempo com Moby Dick, Emma, Guerra e paz e Anna Kariênina. Gostaria de esquecê-los para poder retornar como nova, mas sei que eu não seria a mesma depois do apagamento, pois o tempo dedicado a eles significou demais. Não lembro somente do que aconteceu nos livros, mas também de estar lendo. Lembro do clima, da época e dos lugares onde eu estava. Quando repito algum sabonete, logo conecto o cheiro ao período junto a determinado livro. Se comprometer com um livro imenso é como manter um relacionamento, o que envolve dedicação, mas também felicidade e um certo êxtase — por estar devorando a história, emocionada com personagens ou fisgada pela beleza na escrita. Eu não guardaria essas histórias comigo se não tivesse adorado as leituras, se não as tivesse feito por e com puro prazer.
calhamaços assustam, mas vale muito a pena insistir em alguns deles.
Jesus Cristo… eu cometi esse desatino um dia no tempo.
https://www.youtube.com/watch?v=6-l3UeAGPko