A complexidade da vida contemporânea não deixa de me atormentar. Temos mais facilidades e acessos, mas também estamos cada vez mais ocupados. Podemos pensar em longevidade e qualidade de vida, se antes conseguirmos lidar com os pequenos colapsos mentais de cada dia. O mundo segue evoluindo, trazendo novas promessas e, ao mesmo tempo, tudo parece tão assustador. Há peso demais nos nossos dias.
Minha forma de lidar com o pesadume foi, em primeiro lugar, a leitura. Ler foi um conforto desde antes que eu soubesse disso. Mais tarde, encontrei conforto problemático nas compras online. Percebi que gastava com mais frequência que deveria no começo do ano e passei o restante dele tentando domar o impulso, começando por entender o que me levava a buscar tanta gratificação instantânea.
Acumular foi uma forma de equilibrar a vida anterior, de quereres não supridos. Comecei a trabalhar e logo comprava o que eu não pude ter antes. Nos últimos três anos, o ato de comprar passou a surgir como um momento de euforia que compensava rapidamente os dias cheios de frustrações e medos. Acumulei mais que nunca, mas essas coisas não me trouxeram a felicidade que eu imaginava, não me ajudaram de forma alguma a lidar com a minha própria vida e passaram a ser fonte de novos problemas.
Em algum momento desse processo de me entender, o minimalismo passou a fazer sentido para o rumo que ando buscando. Não é sobre estética, sobre não ter objetos pessoais ou sobre morar em um lugar branco e quase vazio. Eu entendo minimalismo como a busca por uma vida sem exageros, voltada para o que realmente importa. Depois de meses de muita reflexão e uma reestruturação que ainda está acontecendo, acho que descobri o que me importa. Esses são os meus primeiros passos em busca de uma vida com mais sentido:
Interrompendo os excessos
Minha prioridade inicial é impedir novos excessos de chegarem. Faz meses que tenho me esforçado para não comprar para acumular. Isso significa parar de comprar “coisas-reserva” por medo de ficar sem algum item, deixar de me desesperar para aproveitar promoções e deixar de comprar tudo o que eu quero sem necessidade e previsão de uso reais.
Aproveitando o que eu tenho
Não vou me livrar das minhas coisas só para ter menos. Em vez disso, quero usar o que tenho. Organizei o que estava entulhado para facilitar o uso e aproveito as coisas sem ficar preocupada com o dia em que irão terminar. Entendi que usá-las até o final é o caminho para uma vida com menos, sem degringolar para o desperdício.
Pensando o minimalismo como um projeto de vida
Nós, como sociedade, provavelmente nunca pararemos de querer mais. O mundo infla e motiva esses desejos, cada vez mais custosos. Sou parte da minha geração e fui movida pela promessa de que eu poderia ter tudo se trabalhasse o suficiente. O tempo mostrou que não seria assim e trouxe a necessidade de repensar o futuro. Indo na contramão desse mundo megalomaníaco, olhando apenas para dentro, vi que não quero tanto quanto fui treinada a querer. Principalmente porque somos influenciados a mirar onde é praticamente impossível chegar. Há de existir a possibilidade de uma vida mais sustentável, equilibrada e plena de sentido. Talvez a resposta seja viver de modo mais consciente, parando de sonhar com excessos.
Fiz um curso de finanças uma vez e uma das coisas que mais me marcaram foi o professor dizer: não caia no conto de que é a última chance, oportunidade, promoção. Elas sempre voltam, reaparecem. Às vezes não 100% iguais, mas voltam! De lá para cá, lembrei diversas vezes e comprovei com alívio que é verdade, rs, nunca é a última de verdade!
Outra coisa que me pega nessas reflexões é o quanto ainda temos dos nossos pais. Vi um vídeo de uma influencer de decoração (cada um tem seus vícios, rs) em que ela questiona porque temos tantos paninhos: tapetes no banheiro, na cozinha, panos de pratos, toalhas na mesa e por aí vai. São hábitos da época dos nossos pais, que ou tinham empregadas ou as mulheres faziam esse serviço todo dia. A influencer tirou da casa dela e eu da minha. Não sentimos falta nenhuma.
E eu fiquei refletindo o que mais na minha vida eu faço ou tenho só porque me disseram que é assim e pronto... um caminho longo, ainda em curso, mas bem prazeroso
Seu texto chegou em boa hora, obrigada!