Minhas leituras em março foram espaçadas. Unindo falta de tempo e ressaca literária, fiquei insuportável. Nada me agradava, então busquei por algo que poderia me fisgar logo de cara… algo escrito por Claire Keegan.
Comecei por So Late In The Day, com três contos que trazem dinâmicas entre homens e mulheres. O primeiro, que dá nome à coletânea, acompanha um homem lidando com o término do noivado, conduzindo o leitor por suas memórias sobre o que levou ao fim da relação. Em seguida, no conto menos sutil e de que menos gostei, The Long and Painful Death, uma autora faz uma residência de escrita e tem seu isolamento interrompido por um intruso. Por último, Antarctica traz a história de uma mulher que viaja sob o pretexto de fazer compras de Natal para a família, decidida a ter um caso com um estranho — e a experiência vai além do que ela pretendia.
A autora irlandesa, que me encantou com Pequenas coisas como estas, escreve com sutileza e economia: não explica o que não é necessário, não descreve em excesso, não embeleza ou exagera para fabricar emoção. Keegan coloca na página o que é preciso — o mínimo de palavras e recursos, confiando no leitor para intuir o resto. É uma sutileza que faltou em partes da coletânea, mas brilhou em Foster:


O pequeno romance acompanha uma menina praticamente ignorada pelos pais, que não têm condições de cuidar da família numerosa. Quando outro irmão está para nascer, a garota é mandada para passar o verão em uma fazenda com um casal quase desconhecido.
Foster (em inglês) significa adotar, criar, nutrir, acolher. É o que a criança não nomeada encontra no segundo lar. Conforme a história avança, a dinâmica entre ela e os pais temporários fascina e faz perguntar o que poderia dar errado, quais perdas aconteceram e quais virão. Nas conversas e reações da menina ao lar adotivo, há pistas sobre faltas e excessos na casa dos seus pais e é inquietante acompanhá-la descobrindo outra vida com o casal que transborda amor, mas não tinha onde colocá-lo.
O que mexe comigo nas histórias de Keegan é a sensação de que elas são ancoradas na realidade, no sentido de serem simples e complexas ao mesmo tempo, de mostrarem a dureza do mundo coexistindo com a beleza e as delicadezas desse mesmo mundo.
Para começar a ler a autora irlandesa, é claro que vale o incrível Pequenas coisas como estas, mas para quem lê em inglês, Foster é meu preferido.
O favorito do mês
Depois que Keegan me devolveu ao modo-leitora, terminei The Heart is a Lonely Hunter — publicado aqui como O Coração é um Caçador Solitário.
O livro de Carson McCullers, publicado quando ela tinha só 23 anos, é um dos mais tristes e lindamente escritos que já li. Ambientado no sul profundo dos Estados Unidos, no fim da década de 1930, ele abrange parte do período da Grande Depressão e das leis que institucionalizavam a segregação racial. Também contempla brevemente eventos que levaram à 2ª Guerra.
O contexto histórico transborda para o enredo, que gira em torno de John Singer, um homem surdo e mudo. Ele vive solitário depois da internação do seu único amigo, também surdo. Mas logo quatro pessoas são atraídas para a órbita de Singer: o dono de um café-bar; o médico negro que busca lutar por direitos enquanto tenta se reaproximar da família que ele afastou; um recém-chegado com dificuldades para comunicar suas teorias idealistas; a menina que equilibra paixão por música com a pobreza da família em meio ao seu amadurecimento e suas responsabilidades.
Eles preenchem seu silêncio, interpretam seus olhares e sentem que Singer é a pessoa com quem podem conversar. O procuram como se o mudo tivesse respostas para seus problemas, projetando nele esperanças e entendimento. Eles se cruzam, mas raramente interagem ou tentam entender os outros. Cada um com seu arco, são unidos pelo laço com Singer e pela cidade onde vivem. Sendo unidos, talvez, pela própria solidão.
Ainda não desapeguei de O Coração é um Caçador Solitário. Ficou comigo a solidão e o isolamento em contraste com a busca por alguma conexão, e o quanto um livro pode ser lindíssimo e absolutamente desolador.
Não ficção sobre comida
Desde que casei, sempre gostei de cozinhar pratos especiais, como massas, doces e afins, mas preparar a comida do dia a dia era tarefa chata e que eu tentava encurtar ao máximo. Isso mudou depois que li Comer para não morrer, do médico Michael Greger.
O livro aborda como a dieta teria o poder tanto de causar quanto de prevenir uma série de doenças e, em certos casos, de revertê-las. Greger explica os benefícios da dieta plant-based (baseada em alimentos vegetais) e me fez repensar meu estilo de vida: desde os exercícios físicos ao que eu como e, principalmente, quanto tempo estou disposta a passar cuidando da comida.
Apesar da noção óbvia de que comer vegetais é importante, eu não fazia ideia do impacto positivo que eles têm na saúde, nem do lado negativo de coisas que eu comia diariamente. Como não sou médica nem chequei cada pesquisa, não citarei informações e recomendações do livro… apenas deixo aqui um relato pessoal e a indicação de leitura para quem se interessar em obter mais informação e autonomia em relação à alimentação.
A primeira parte do livro é dividida por doença e a segunda é focada nos alimentos e nas recomendações de Greger. Passei um tempão lendo-o, achei interessantíssimo e o que ele propõe fez sentido para mim. Pensava que preparar comida da rotina era desperdício de tempo, mas hoje vejo como um cuidado e um investimento em saúde. Tenho buscado comer o mais natural possível e adorado testar ingredientes que não faziam parte do meu dia a dia.
AMEI Pequenas coisas como estas e agora estou super curiosa para ler Foster! Mas confesso que a parte da alimentação me pegou, eu ainda estou na fase de achar que cozinhar é uma grande perda de tempo. Já coloquei na minha listinha!
Eu li Pequenas Coisas como Estas no início do ano eu e eu AMEI. Já estou com Foster no meu kindle e a sua resenha me incentivou a lê-lo logo, furar a fila. Adoro essa sensação de encontrar um novo autor para amar, sinto que poucas vezes isto tem acontido nos últimos anos. Também adoro esse tema sobre comida/alimentação, ou seja, todas as suas indicações foram muito valiosas!