Costumava ficar ansiosa com a máxima “muitos livros e pouco tempo”, até que foquei no que considero essencial ler e reler dentro de uma vida. Por esse prisma, a conta macabra deixou de me incomodar.
Apelando aos números e à expectativa média de vida, espero ter ao menos 40 anos de leituras futuras e penso que posso ler cerca de 50 livros por ano. Considero esse o meu número ideal — não para bater metas, mas para estar motivada, avançando e ativa. No final, a matemática me acalenta ao indicar que provavelmente tenho mais de dois mil livros para ler. Isso me parece o suficiente para o que de fato importa, mas como definir o que entra nessa categoria?
Para Harold Bloom, não devemos nada à mediocridade. O tempo não cederá. Lemos, escreve ele, em busca de uma mente mais original que a nossa1. Depois que um livro grandioso expande a nossa capacidade crítica, obras menores não bastam. É preciso padrões altos para encontrar o que Bloom chamou de prazer difícil e muitos livros não passam no filtro.
Apesar dos lançamentos interessantes e de certa cobrança da bolha literária para que os outros leiam uma variedade de categorias, acredito em ler somente o que interessa genuinamente. Não escolho um livro por ser nacional, contemporâneo ou por se encaixar em uma lista que não a minha, íntima e pessoal. Depois de explorar gêneros e escritores, tenho ampla consciência do meu gosto literário e sei que posso aplicar filtros para evitar obras que não me trarão satisfação ou conhecimento.
Escolho leituras através de poucas e boas influências: pessoas com quem me identifico e que têm gostos próximos do meu; em diários, biografias e ensaios; em livros parecidos com meus favoritos; entre outros trabalhos de quem gostei de ler. Um livro certeiro ressoa em uma vida de leituras, podendo servir como entrada para muitos outros ou para a obra completa de um escritor favorito em potencial. Podendo, ainda, ser um prazer difícil e necessário para aprimorar-se nas leituras.
Com pouco tempo e muitas indicações (ou cobranças externas) do que deve-se ler, o melhor é ler sem pressa e em busca de uma formação particular. Listas, vídeos e textos apresentam possibilidades, mas não devem desfocar o caminho, iluminado somente pelo conhecer-se e pelas experiências com cada livro. Duas mil, mil ou 500 leituras bem escolhidas e cuidadosamente feitas compõem uma belíssima bagagem. Isso me sossega.
O importante é ler. Só isso.
sabe que passamos por um processo mental bem parecido? esse ano li 40 livros e constantemente eu penso "meu deus, já li 40 livros e não tô nem perto de tudo que quero ler". aí pensei que nos próximos anos eu também posso ler essa mesma quantidade...
tenho usado esse ano pra ler "de tudo um pouco", pra daí no futuro conseguir fazer uma curadoria pessoal cada vez mais acertada. baita reflexão a tua :)