Estar na internet não precisa ser ruim
sobre postar sem pressões e frustrações inventadas
Passei os últimos meses mudando algumas coisas na vida, da péssima alimentação ao trabalho. Com menos tempo livre, tive que decidir como queria usá-lo — e se a internet se encaixaria nisso.
Quando comecei no bookgram1, queria escrever e me conectar com outras pessoas, mas isso foi se perdendo conforme eu crescia na plataforma. Fiquei constantemente preocupada com métricas e crescimento; com manter o que eu havia “conseguido” (ainda não sei dizer o que seria); com o que pensariam sobre mim (como se alguém tivesse tempo). Foi desgastante e, para mim, um modo nada saudável de estar online. Em novembro, saí do Instagram porque não queria passar a vida pensando nesse tipo de coisa. Mas transferi minhas preocupações e inseguranças para o Substack2.
Se as métricas incomodavam a ponto de me paralisar, pensei em sair daqui também, sumir com os números. Mas a verdade é que eu adoro escrever na internet, adoro me conectar com pessoas que eu não conheceria sem ela. Se ninguém estava me obrigando a estar online, por que raios eu via isso como um peso? Oras… porque eu estava na internet do jeito errado, isto é, com as coisas erradas em mente.
Pensei sobre isso durante meses e sei que a newsletter é o projeto pessoal que me vejo cultivando por anos, enquanto existir uma internet. Eu a escreveria se tivesse 500 ou 2000 inscritos a menos? Sim. Seria mais feliz se tivesse 500, 2000, 20 mil inscritos a mais? Duvido muito. Se a news sumisse, eu a recomeçaria do zero? É claro! No fundo, números não têm que importar já que o que quero fazer aqui não tem linha de chegada, já que sempre volto naturalmente ao ato de escrever, já que o que importa nessa internet de vazios são as conexões com outras pessoas.
Mais que uma mudança brusca, encontrar meu modo saudável de estar na internet tem sido um exercício que envolve: me lembrar que a escrita é algo que faço por mim e que qualquer peso/pressão/frustração que exista no ato de escrever foi inventado por mim mesma; escolher as preocupações que valem meu tempo; focar em escrever só o que me interessa e o que eu considero válido de ser dividido; pensar no que quero comunicar e não em como eu gostaria de ser lida ou “vista”; compartilhar para apreciar as conexões e trocas que surgirem, sem esperar nada além disso.
Editado em 12/05/25:
Depois de enviar este texto, passei dias pensando sobre “estar na internet de uma forma que faça sentido para mim” e decidi voltar ao Instagram — não no modo “produtora de conteúdo”, mas apenas para dividir despretensiosamente o que estou lendo e escrevendo. Me encontre lá como @juliagrco :)
Bookgram é o nicho literário dentro do Instagram.
Substack é a plataforma onde publico esta newsletter, que também é rede social, mas uma que considero mais tranquila.
Me identifiquei muito com o seu texto! Eu também passei muito tempo na internet do jeito errado, muitas vezes tentando me encaixar em espaços em que eu não cabia. Tudo mudou (e drasticamente) quando decidi que eu ia postar o que EU gostava, do jeito que EU quisesse, e essa maneira mais autêntica de postar me deu liberdade e, curiosamente, muito mais resultado do que quando eu efetivamente buscava um resultado. Agora eu posto só quando eu quero, o conteúdo que me interessa, os textos que eu quero escrever, os vídeos que eu quero gravar. As métricas ainda me influenciam, claro, mas mais como um incentivo do que como uma pressão... felizmente! O ponto de vista é que mudou :)
Adorei o texto! Me peguei pensando nessas questões recentemente, coincidentemente fazendo um link com o bookgram que também tive. Durante a pandemia, criei a conta para postar resenhas de livros que estava relendo, na época não podia investir tanto em livros novos então acabei revisitando títulos queridos na minha estante e coisas que ainda não tinha lido... e foi tão divertido! Adorava montar as fotos, escrever os textos... até que comecei a ganhar alguns seguidores a mais, seguir outras contas do nicho e comecei a ficar completamente pilhada com um volume de conteúdo que eu “tinha” que produzir, de um jeito cada vez mais megalomaníaco. A minha conta nem era uma gigante, muitos dos seguidores eram amigos que sempre gostaram de me ouvir falar sobre o que eu lia e mesmo assim eu entrei numa piração digna de agência publicitária que explora seus funcionários. Como já era de se esperar, o fogo não durou muito, no fim da pandemia eu comecei a trabalhar e infelizmente não deu pra conciliar meus dois empregos (risos risos) e o bookgram foi deixado pra lá; depois de ler vários textos pelo substack decidi criar uma news aqui também, me parece um cantinho da web mais calmo... só que até hoje esse tal do primeiro texto não saiu do rascunho, sempre me fazendo questionar como vou ser percebida por meio dele, se vou cair no buraco do desejo por produtividade do mesmo jeito que aconteceu no passado... enfim, compartilhando um tico da minha história pra dizer que esse texto me lembrou de tentar encarar esses projetos de um jeito mais equilibrado <3