Em 2023, a vida tornou a leitura menos frequente do que eu gostaria, ainda assim, o meu ano foi salpicado por ótimos livros. Quando penso sobre tudo o que eu li, são esses os livros que ainda me dão arrepios:
A leste do Éden, de John Steinbeck, acompanha duas famílias: os Hamilton, inspirados na linhagem do autor, e os Trask. Ambientado no Vale do Salinas, na Califórnia, entre 1860 e a Primeira Guerra Mundial, é uma alegoria da história bíblica. Steinbeck escreveu-o para contar uma das maiores e talvez a maior história de todas: a história do bem e do mal, da força e da fraqueza, do amor e do ódio, da beleza e da feiúra, e tentar demonstrar como um não pode existir sem o outro1. Me fez pensar sobre a necessidade de pertencer e como nos cabe o peso e a responsabilidade por nossas escolhas. Para o autor, escrever era a tentativa desajeitada de encontrar símbolos para o que não pode ser colocado em palavras. Em A leste do Éden, ele consegue fazer isso ao retratar a experiência de ser humano com toda a sua ambivalência. Um livro triste e brutal, mas também belo, inesquecível e uma lição de escrita.
Moby Dick, de Herman Melville, acompanha o capitão Ahab colocando um navio inteiro à caça da monstruosa baleia que arrancou a sua perna. Mostra o poder enlouquecedor da vingança, as tentativas do homem de domar a natureza e sua fragilidade diante de forças maiores que si. Lê-lo foi entrar em um mundo à parte e ver a sua realidade desmoronando ao passo que a tripulação navega rumo à caçada insana. Sinto vontade de voltar ao livro toda vez que me lembro do quanto ele é imenso e cheio de significados.
Os diários de Virginia Woolf, publicados pela editora Nós, me acompanharam ao longo do ano e me ajudaram a enfrentar dificuldades com a leitura e a escrita. Fornecendo ou não um vislumbre de Woolf, já que ela usava o diário para praticar, foi inspirador ler sobre a sua época, sobre como ela possivelmente passava os seus dias, e encontrar relatos de grandes acontecimentos (como o dia a dia no período de guerra) misturados às miudezas de uma vida. Li o primeiro devagar, devorei o segundo e sigo com o terceiro, incapaz de terminá-lo sabendo que a continuação ainda não foi publicada. A partir do segundo volume, acompanhamos o período de escrita de suas maiores obras.
Como ler os russos, de Irineu Franco Perpetuo, fornece uma base para entender e conhecer a literatura russa. Ficou entre os favoritos não apenas pela riqueza de informação, mas por ter me deixado completamente encantada com o trabalho dos escritores russos e instigada para lê-los mais. Da leitura, montei uma lista de obras indo além de Tolstói e Dostoiévski. O livro também inspirou um projeto pessoal da leitura de um russo por mês (que será feito neste ano ♡).
Não posso deixar de fora as releituras de Anna Kariênina e O morro dos ventos uivantes. Se do primeiro eu gostei logo de cara, O morro dos ventos uivantes me ganhou com a releitura.
além das leituras
Platonic, da Apple TV, foi a minha série favorita do ano (e eu já a revi algumas vezes). Seth Rogen e Rose Byrne interpretam dois ex-melhores amigos que se reconciliam na vida adulta após o personagem de Rogen se divorciar. De um jeito meio sem noção e muito engraçado, mostra como a vida nunca fica totalmente no eixo, mas que a jornada de se encontrar pode ser bacana. Me agradou demais, pois se preocupa primeiramente com fazer rir, como eu acho que comédias devem ser.
Jury Duty, do Prime Video, acompanha um júri enclausurado por um julgamento. Todos ali são atores, menos o protagonista, que não tem ideia de que julgamento, jurados e todo o seu entorno durante o período são falsos. É engraçada e é uma graça de série. Me impressionou acompanhar uma pessoa genuína lidando com as situações mais bizarras; o trabalho de gravação com câmeras e microfones escondidos; e a atuação meio roteirizada, meio improvisada. James Marsden (o Scott de X-Men) aparece como uma versão egocêntrica e exagerada dele mesmo.
Silo, da Apple TV, adapta o livro que trata de um mundo pós-apocalíptico. Uma pequena sociedade vive num silo subterrâneo com regras bem restritas de ascensão social, acesso à informação e controle de natalidade. Fora do silo, a atmosfera é supostamente contaminada. Muito bem feita, com cenários incríveis, mistérios bacanas de acompanhar e Rebecca Ferguson como protagonista. Gostei muito e aguardo ansiosamente pela segunda temporada.
Na internet, acompanhei muito conteúdo bacana. Os mais presentes no meu 2023 foram a newsletter da
, autora nacional que escreve com honestidade sobre mercado literário e processo de escrita; a newsletter da , que compartilha os textos e vídeos mais legais sobre escrita e estudos literários; os ensaios literários da ; e o canal da Paloma Lima, que indica os melhores livros que quase ninguém leu.Journal of a novel: the East of Eden letters, por John Steinbeck, publicado por Penguin Books, aqui aparece em tradução informal minha.
Estou iniciando A Leste do Éden e já penso numa releitura, tamanha a riqueza que o livro 📖 dispõe e que não tenho capacidade de absorver no momento. Mas como dizem, ao lermos não precisamos apreender por completo tudo que o livro tem a oferecer, senão seríamos máquinas, não humanos. Basta aproveitar a leitura, que seja um momento prazeroso. Moby Dick também está entre os favoritos meus de 2023, e diria da vida. Obrigada pelo conteúdo sempre muito bem apresentado! Com certeza ficamos com vontade de ler o que não lemos ainda após ler seus textos por muitas vezes acompanhados de fotos lindas!
adorei a lista e fiquei felizona de ver meu nome aí <3
um beijo enorme!